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quinta-feira, 7 de março de 2019

Qualidade do ar interior

As pessoas passam cerca de 80% a 90% do seu tempo em ambientes interiores (habitações, escolas, escritórios, unidades de prestação de cuidados de saúde e outros estabelecimentos públicos e comerciais). A qualidade do ar que se respira nos edifícios é um fator importante e fundamental para a saúde e bem-estar (WHO guidelines for indoor air quality: dampness and mould, 2009).


A qualidade do ar interior é, em parte, determinada pela qualidade do ar exterior, devido às permanentes trocas que ocorrem, mesmo quando portas e janelas se encontram fechadas. Um ar exterior de qualidade é, portanto, essencial para que o ar interior esteja limpo, mas existem outras fontes de poluição do ar interior. Alguns produtos como os materiais de construção e os materiais usados em mobiliário e decoração têm vindo a sofrer modificações nas últimas décadas, sendo alguns deles produzidos com recurso a compostos químicos que emitem elevadas quantidades de compostos orgânicos voláteis (COV).

Fontes importantes de poluição do ar interior incluem, para além do ar exterior, o organismo humano, a sobre-ocupação do local de trabalho, deficiências no sistema de ventilação, o fumo de tabaco, a emissão de fibras a partir de materiais de construção (amianto, lã de rocha, lã de vidro), o mobiliário de escritório, a utilização de plásticos e produtos sintéticos (tintas e vernizes), a presença de alcatifas, cortinados, fotocopiadoras, impressoras e computadores. Diversos compostos orgânicos voláteis, tais como o formaldeído, contribuem também para a contaminação do ar interior, podendo ser libertados durante a utilização e armazenamento de produtos de limpeza.

Também, as pessoas e os animais de companhia poluem o ar ao exalarem dióxido de carbono, emitindo odores corporais ou largando pelo. As atividades que as pessoas levam a cabo dentro de edifícios como cozinhar, utilização de produtos de limpeza, fumar ou queimar velas ou incenso contribuem também para a degradação da qualidade do ar interior.
Os animais domésticos, quando vivem no interior das casas, influenciam a qualidade do ar interior e podem provocar algumas doenças como asma e alergias.
Uma fonte bastante importante para a poluição do ar interior é o fumo do tabaco no interior das habitações, que leva por vezes populações mais frágeis, tais como crianças e idosos a tornarem-se fumadores passivos.

Cumulativamente, as condições de temperatura e humidade são importantes para o bem-estar humano: a humidade excessiva pode causar condensação nas superfícies frias, especialmente nas paredes, com a possibilidade de produção de bolores e posteriores efeitos negativos nos utilizadores dos espaços. Em relação à temperatura, para a mesma concentração de poluentes, existem mais queixas ao nível da saúde à medida que a temperatura aumenta.

Outro factor de risco relativo ao ar interior prende-se com uma questão que, por natureza, escapa aos sentidos humanos, a radioactividade. A crosta terrestre contém naturalmente pequenas quantidades de elementos radioactivos. A sua actividade depende das características do solo, podendo ser elevada em regiões graníticas. Nestas regiões, forma-se radão, um gás que, apesar de não apresentar directamente uma ameaça por ser inerte, decai para descendentes radioactivos no estado sólido que podem ser inalados e depositar-se nos pulmões. Como gás emanado do solo, o radão pode facilmente infiltrar-se nos edifícios através de fissuras, podendo acumular-se e atingir níveis de actividade elevada em recintos mal ventilados.

A falta de controlo da radioactividade na origem das matérias-primas dá também azo a que sejam utilizados materiais de construção ricos em isótopos radioactivos. Se isto não apresenta um problema grave para construções de baixo factor de ocupação, pode revelar-se um factor de risco importante nas habitações, pois vai aumentar a exposição dos ocupantes a radiações ionizantes.

Os mais atentos já terão percebido por esta altura que a ventilação e renovação de ar de um local é um dos factores mais importantes para melhorar a qualidade do ar interior do mesmo. No entanto, graças à evolução das tecnologias, este procedimento tem vindo a ser descurado. Algumas habitações possuem divisões interiores (sem janelas), cujo arejamento é dificultado. Actualmente, para melhor aproveitamento da energia despendida em aquecimento/arrefecimento, procura-se que as janelas sejam mantidas devidamente fechadas e calafetadas. Esta medida, por um lado eficaz em termos de poupança de energia, prejudica muito a qualidade do ar interior que assim não é renovado, originando diversos problemas relacionados com condensações.

A ventilação é considerada inadequada quando ocorre uma insuficiente entrada e distribuição de ar do exterior para o interior. No caso de não haver renovação do ar dentro do edifício, irão ocorrer situações de estagnação e contaminação do ar. A falta de manutenção dos filtros e limpeza dos sistemas de ventilação (climatização) poderá favorecer a acumulação de poeiras, que irão provocar a contaminação do ar interior.

A bactéria do género Legionella encontra-se normalmente em lagos, rios ou albufeiras. A partir destes reservatórios poderá colonizar os sistemas artificiais de água, tais como redes prediais e sistemas de climatização que usem água para arrefecimento do ar, principalmente aqueles aos quais estejam associadas torres de arrefecimento. Do ponto de vista da qualidade do ar interior, a problemática da legionella só fará sentido se o ar transportar aerossóis (microgotículas contaminadas com a bactéria). Esta situação só se poderá verificar no caso de existirem torres de arrefecimento posicionadas junto às entradas de ar do sistema de climatização e desde que exista libertação de aerossóis contaminados que entram no sistema, o que é pouco provável.

Para minimizar e quando possível eliminar os problemas associados à má qualidade do ar interior, é necessária a integração de um conjunto de acções/procedimentos que actuem sobre os factores de risco, ou seja, que permitam identificar, reduzir ou remover as fontes de degradação da qualidade do ar interior. Estas acções/procedimentos devem ter um carácter preventivo, sempre que possível. Alguns exemplos deste tipo de acções são:

1. Identificar e controlar as fontes poluentes – Por exemplo, proibir de fumar ou limitar esta actividade, mudar a localização de equipamentos, substituir materiais, seleccionar produtos menos poluentes, modificar atitudes dos ocupantes, reestruturar determinados espaços (por exemplo após ter limpo e desinfectado um espaço que se encontrava contaminado por fungos, controlar a humidade deste espaço, de modo a criar condições desfavoráveis ao seu desenvolvimento);

2. Eliminar, sempre que possível, as fontes de contaminação – Por exemplo o excesso de papel, carpetes, etc.


3. Implementar um Plano de Acção de Qualidade do Ar Interior(QAI):
- Nomear um gestor responsável pela QAI;
- Desenvolver um perfil de QAI para o edifício;
- Realizar um diagnóstico da QAI do edifício;
- Formar os ocupantes do edifício acerca da QAI;
- Desenvolver e implementar um plano de operações e manutenção para o edifício;
- Gerir processos com fontes potenciais significativas (exp. remodelação e renovação, pintura, controlo de pragas, etc);
- Comunicar com os ocupantes acerca da actuação para manter uma boa QAI;
- Estabelecer procedimentos para resposta a queixas da QAI

4. Controlar a exposição dos ocupantes – Programar determinadas actividades para que sejam realizadas em períodos de ausência dos ocupantes; 

5. Efectuar a manutenção dos sistemas de climatização – As condutas devem ser limpas periodicamente. A frequência destas acções deve estar previamente definida, assim como os responsáveis pela sua realização; 

6. Melhorar as condições de ventilação – A ventilação deve ser suficiente, ou seja, deve permitir a diluição de poluentes (por exemplo através do aumento da quantidade total de ar fornecido ou do melhoramento da distribuição de ar que deve ser contínua e não deve provocar correntes de ar incómodas) e deve permitir isolar ou remover contaminantes (por exemplo através da instalação de um sistema de exaustão localizado junto da fonte de poluição, de evitar a recirculação de ar contaminado, de manter as portas fechadas nos casos em que for necessário separar determinadas zonas, etc); 

7. Melhorar a filtração do ar - Os filtros devem ser eficazes para filtrar as partículas que afectam a saúde e devem ser alvo de manutenção adequada. 

8. Melhorar os procedimentos de limpeza – Seleccionar métodos e materiais de limpeza com menores efeitos na saúde e planear estas acções, etc. 

9. Refere-se ainda a importância de cumprir a legislação em vigor, logo na fase de projecto, nomeadamente o Decreto-Lei n.º 118/2013, de 20/08, onde já estão referidos os requisitos necessários para a manutenção da qualidade do ar interior. 

Nota: Elaborado por Paulo Martins, Técnico de Saúde Ambiental, tendo como fontes informações obtidas de: Direcção-Geral da Saúde; Organização Mundial da Saúde; Agência Portuguesa do Ambiente; e Revista Edifícios e Energia.

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