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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Primeiro a segurança

“No dia 28 de Abril de 1996 caí de um andaime que estava a uma distância de 7 metros do chão. Esse acidente deixou-me tetraplégico.

Nesse dia estávamos a acabar de pintar a fachada de um prédio. As protecções de segurança do andaime já não estavam colocadas (não sei se alguma vez o estiveram…). O dia estava quente e ao almoço bebi algumas cervejas (hoje sei que bebi demais…). Ao subir ao andaime, o calor, o álcool em excesso e a falta de condições de segurança fizeram com que caísse de uma altura de 7 metros.

Fiquei inconsciente e quando acordei estava no hospital. A minha mulher, banhada em lágrimas e segurando na minha filha de 3 anos ao colo, contou-me que estive inconsciente durante 7 dias e que durante esse período fui permanentemente sujeito a exames médicos e a intervenções cirúrgicas. Foi-me diagnosticada uma lesão medular irreversível a nível C-3, C-4, o que significava que seria, a partir dessa altura, um tetraplégico.

Não sei se desmaiei novamente depois de ouvir estas palavras, sei que o tempo me pareceu ter parado. Revi toda a minha vida até ao momento do acidente e pensei como teria sido feliz se nada daquilo tivesse acontecido….Teria ensinado a minha filha a andar, a nadar, poderia passear a pé e de mão dada com a minha mulher e a minha filha, teria vivido mais feliz. Agora, devido a um estúpido acidente, a minha vida, tal como eu a conhecia até aí, tinha acabado. Teria de me habituar à ideia de que a única parte do corpo que continuava a ter controlo era a cabeça. Teria de me convencer da minha dependência para tudo e qualquer coisa até ao final da minha vida.

Olhando agora para trás, revejo a minha família a viver todos aqueles momentos de sofrimento, de pânico e angústia. Mas também reconheço que foram eles que me deram e continuam a dar forças para continuar.

Algum tempo após o acidente, lembro-me de ter visto na televisão que o dia do meu acidente tinha sido instituído em Portugal como o Dia Nacional da Prevenção e Segurança no Trabalho. E que curiosamente, o lema desse dia era o de marcar esse dia no calendário para recordar as vítimas de acidentes de trabalho. Pois, para mim, esse dia ficou marcado no calendário até ao fim da minha vida e tento, com estas breves linhas, impedir que outros o tenham de fazer…”

P.S. Este é um relato de uma situação fictícia e qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
Para dúvidas, sugestões ou comentários, não hesite em utilizar o endereço de correio electrónico usp@csbarcelinhos.min-saude.pt.

Nota: Elaborado por Paulo Martins, Técnico de Saúde Ambiental da Unidade de Saúde Pública Barcelos/Esposende. Fotografia de Dario Silva.

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