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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Urbanidade e saúde mental


Nos países desenvolvidos, as perturbações mentais têm vindo a aumentar exponencialmente, encontrando-se mais disseminadas em indivíduos com vivências essencialmente urbanas. Estas perturbações manifestam-se através de depressões, fobias ou síndromes ansiosas.

Sabendo que a ansiedade “normal” (ou saudável) corresponde a uma resposta do ser humano a situações que encara como ameaçadoras, compreende-se que as situações que intimidam o homem citadino começam a ser demasiadas ou até excessivas. O que acontece, então, nas cidades para que o homem esteja em constante vigilância até à exaustão? Serão assim tantos os perigos nas cidades? Ou será algo implícito ao seu desenho, à relação que os espaços estabelecem com o corpo, e, consequentemente com a mente, que se alterou num “curto” intervalo de tempo?

Aproveitando as palavras de Juhani Pallasmaa sublinha-se que a «desumanidade da arquitectura contemporânea e das cidades pode ser entendida como uma consequência da negligência do corpo e dos sentidos». Este afastamento entre o modo de construir ou de projectar, das exigências e necessidades do corpo humano, conduz, em certos indivíduos, a estados de alienação e solidão que podem culminar em perturbações mentais graves. 

O que parece ter-se “esquecido” no passado recente do desenho urbano é a relação que este deve estabelecer com a experiência instintiva do homem ao vivenciar os espaços, mais relacionada com o corpo e sua sabedoria oculta, do que com a direcção do olhar. 

Por outro lado, também a identidade cultural característica de cada lugar (os hábitos e experiências transmitidos de geração em geração, que configuram tradições corporais) tem vindo a ser negligenciada, sendo substituída por tendências espaciais massificadas. Mesmo reconhecendo que actualmente, em qualquer amostra de população se encontra uma profunda e contínua alteração de hábitos, é de referir que existem certos aspectos culturais que diferenciam a vivência dos espaços, condicionando as experiências de cada indivíduo consoante o contexto cultural de que provém.

Deste modo, aponta-se como essencial, para tentar inverter este aumento de perturbações e fobias, questionar as características dos espaços (construídos/a construir) e as relações que estes devem estabelecer com o corpo, e, talvez, repescar a essência da nostalgia de determinados espaços.

Nota: Elaborado por Luísa Dantas, Enfermeira de Saúde Comunitária da Unidade de Saúde Pública Barcelos/Esposende com colaboração de Mariana Alves Ferreira, Arquitecta-Estagiária, Titular do Grau de Mestre em Arquitectura. Fotografia de Dario Silva.

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