Nos
países desenvolvidos, as perturbações mentais têm vindo a aumentar
exponencialmente, encontrando-se mais disseminadas em indivíduos com vivências essencialmente
urbanas. Estas perturbações manifestam-se através de depressões, fobias ou síndromes
ansiosas.
Sabendo
que a ansiedade “normal” (ou saudável) corresponde a uma resposta do ser humano
a situações que encara como ameaçadoras, compreende-se que as situações que
intimidam o homem citadino começam a ser demasiadas ou até excessivas. O que
acontece, então, nas cidades para que o homem esteja em constante vigilância
até à exaustão? Serão assim tantos os perigos nas cidades? Ou será algo
implícito ao seu desenho, à relação que os espaços estabelecem com o corpo, e,
consequentemente com a mente, que se alterou num “curto” intervalo de tempo?
Aproveitando
as palavras de Juhani Pallasmaa
sublinha-se que a «desumanidade da
arquitectura contemporânea e das cidades pode ser entendida como uma
consequência da negligência do corpo e dos sentidos». Este afastamento
entre o modo de construir ou de projectar, das exigências e necessidades do
corpo humano, conduz, em certos indivíduos, a estados de alienação e solidão
que podem culminar em perturbações mentais graves.
O
que parece ter-se “esquecido” no passado recente do desenho urbano é a relação
que este deve estabelecer com a experiência instintiva do homem ao vivenciar os
espaços, mais relacionada com o corpo e sua sabedoria oculta, do que com a
direcção do olhar.
Por
outro lado, também a identidade cultural característica de cada lugar (os
hábitos e experiências transmitidos de geração em geração, que configuram
tradições corporais) tem vindo a ser negligenciada, sendo substituída por tendências
espaciais massificadas. Mesmo reconhecendo que actualmente, em qualquer amostra
de população se encontra uma profunda e contínua alteração de hábitos, é de
referir que existem certos aspectos culturais que diferenciam a vivência dos
espaços, condicionando as experiências de cada indivíduo consoante o contexto
cultural de que provém.
Deste
modo, aponta-se como essencial, para tentar inverter este aumento de perturbações
e fobias, questionar as características dos espaços (construídos/a construir) e
as relações que estes devem estabelecer com o corpo, e, talvez, repescar a
essência da nostalgia de determinados espaços.
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