Sempre que a palavra água aparece na imprensa, raramente a crise está longe. A água, diz-se, é o novo petróleo: um recurso há muito desbaratado, cada vez mais caro e em breve devorado por uma procura insaciável. Os aquíferos estão a baixar, os glaciares a desaparecer, as reservas a secar e os rios deixam de correr para o mar.
As alterações climáticas ameaçam agravar o problema. Todos temos de consumir menos água se quisermos evitar que a fome, as epidemias e as migrações em massa varram o planeta. Como as coisas estão, há guerras prestes a rebentar entre países que disputam aquíferos e rios. Se o apocalipse ainda tarda é porque os 4 cavaleiros pararam para procurar onde beber.
A mensagem essencial é esta: a água é escassa em muitos e diversos lugares e sê-lo-á cada vez mais. Equilibrar a oferta e a procura será muito doloroso e as divergências políticas podem amplificar os problemas. Mas prosseguir com as práticas actuais leva ao desastre.
As dificuldades começam logo com o número de consumidores. Quando há 60 anos a população mundial era de 2.5 mil milhões de pessoas, as preocupações com os recursos hídricos afectavam relativamente pouca gente. Tanto a seca como a fome existiam, mas a maioria da população podia ser alimentada sem agricultura de regadio.
Depois, a revolução verde, numa inspirada combinação entre novas culturas, fertilizantes, pesticidas e água, tornou possível 1 grande aumento da população, constituindo hoje quase 7000 milhões!
Hoje, mil milhões de pessoas adormecem todas as noites com fome, em grande parte devido à falta de água para cultivar bens alimentares.
Nos climas temperados, onde as chuvas caem moderadamente durante todo o ano, não se imagina até que ponto a água é necessária para a agricultura. Na Grã-Bretanha, por ex., a agricultura gasta apenas 3% de toda a água captada. Em contrapartida, nos EUA gasta-se 41%, na China 70% e na Índia perto de 90%!Na generalidade, a agricultura é responsável por quase 70% do consumo de água.
Com 2000 milhões de pessoas em todo o mundo prestes a entrar na classe média, a procura de água para a agricultura poderá aumentar mesmo se a população deixar de crescer. A indústria precisa de cerca de 22% da água e as actividades domésticas absorvem os restantes 8%. A água não está distribuída equitativamente: apenas 9 países têm 60% da água!
Responder a esta procura é diferente de responder à procura de qualquer outro bem – os recursos hídricos são finitos.
O mundo não terá mais água hoje ou amanhã do que no tempo do dilúvio da arca de Noé! O ciclo hidrológico é constante. Isto verifica-se, porque a lei da conservação das massas preconiza que por muito que se consuma, não se destrói a matéria.
Contudo, existem alguns tipos de utilização que a inutilizam para certos fins, designadamente através dos processos de evapotranspiração (ET), negligenciados pelos responsáveis dos recursos hídricos.
Existe a crença generalizada de que ninguém deverá pagar pela água. O imperador bizantino Justiniano decretou no séc. VI que “por lei da natureza”, o ar, a água corrente, o mar e as praias eram bens “comuns a todos”.
As multinacionais da energia e da água formam a guarda avançada dos benfeitores da humanidade, na presunção de que são os maiores promotores da protecção ambiental, para maquilhar a realidade dos contratos.
O próprio Conselho Mundial da Água é presidido por 1 alto quadro duma destas multinacionais (VEOLIA), e pretendem contribuir para a definição jurídica dos bens comuns da humanidade! Na última cimeira da água, em Istambul, o CMA recusou-se conceder à água o estatuto de direito, mas apenas o de necessidade!
A população de bairros pobres de La Paz revoltou-se e foi violentamente reprimida ao denunciar condições contratuais que impediam o acesso a 1 sistema de abastecimento de água potável, justo e universal.
Para dúvidas, sugestões ou comentários, não hesite em utilizar o endereço de correio electrónico usp@csbarcelinhos.min-saude.pt.
Nota: Elaborado por António Afonseca, Técnico de Saúde Ambiental da Unidade de Saúde Pública Barcelos/Esposende e publicado no Jornal de Barcelos a 8/12/2010
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