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terça-feira, 20 de abril de 2010

Vamos fazer das quintas-feiras “donderdag veggiedag”?

A partir de 1950 o nosso pior pesadelo era a guerra nuclear. Vivíamos dominados pelo medo de que um qualquer líder das superpotências decidisse desencadear uma guerra nuclear. O apocalipse passou agora a ser ambiental!

A realidade começa a ultrapassar a ficção. Quem ousaria imaginar o degelo das, supostamente eternas, neves dos Himalaias, inundando os vales do Nepal e as planícies indianas?

Os gases com efeito de estufa não constituem um problema tradicional de poluição atmosférica, mas um problema de utilização de energia – o que faz toda a diferença.

Contudo, sabíamos que o planeta estava ameaçado pelos nossos automóveis, casas sobreaquecidas e transportes. Agora, é o nosso apetite que nos pode vir a custar caro.

A produção de carne é o segundo maior emissor mundial de gases com efeito de estufa, logo atrás da produção de energia. Provêm desse sector 18% daqueles gases, ou seja, mais do que todos os transportes do mundo (14%)!

São 18%, emitidos ao longo de toda a cadeia de fabrico dos nossos bifes: desde os adubos para as forragens até ao azoto do estrume, passando pelos gases e, sobretudo, os arrotos dos bovinos, carregados de metano, um gás com efeito de estufa 25 vezes maior do que o dióxido de carbono.

Este número assustador foi publicado pela FAO (Food and Agriculture Organization – Organização para a Alimentação e Agricultura). Irá o século XXI assistir ao fim do regime carnívoro – por razões ecológicas e sanitárias? Os estudos são numerosos e concordantes, mas os espíritos ainda não estão maduros para entenderem.

A produção de carne passou de 71 milhões de toneladas, em 1961, para 284 em 2007!

O crescimento actual do consumo de carne deixa antever consequências em cadeia para a humanidade. A começar pela multiplicação dos vírus: 2/3 das doenças humanas provêm de animais.

Segundo a FAO, a produção de proteínas animais absorve 70% do solo agrícola, mais de 30% das terras emersas e 45% da água mundial. Embora o número de pessoas com fome exceda os mil milhões, a maior parte do milho e da soja serve para alimentar porcos, vacas e frangos.

Para completar um quadro já apocalíptico, falta “apenas” a poluição maciça do ar, dos solos e das águas (dejectos animais 130 vezes superiores em volume aos humanos e produtores de resíduos de azoto e de fósforo).

Urge rever a forma como a carne é produzida e convencer os ricos a não se empanturrarem tanto com carne.

Em Gand, na Bélgica, desde Maio passado, todas as quintas-feiras são “donderdag veggiedag” – quinta-feira sem carne!

Vamos tomar a mesma iniciativa?

 
 
 
Nota: Elaborado por António Afonseca, Técnico de Saúde Ambiental da Unidade de Saúde Pública Barcelos/Esposende e publicado no Jornal A Voz do Minho a 2010/04/14