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quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Efeitos Biológicos das Radiações Ionizantes


Resultado de imagem para ionization radiationA população humana está continuamente exposta a radiações ionizantes e não ionizantes, de origem natural (rochas, solos, cósmica) e artificial (procedimentos médicos, centrais nucleares). A radiação ionizante é, desde há muito tempo, considerada um perigo ambiental e ocupacional. Paradoxalmente ao avanço do conhecimento humano acerca dos efeitos indesejáveis da radiação, tem-se verificado um aumento do nível de exposição à radiação artificial, especialmente para fins médicos. No entanto, a sua utilização na medicina é justificada, porque os benefícios clínicos que proporciona compensam os potenciais riscos, desde que seja usada de forma criteriosa.

As lesões por exposição a radiações ionizantes podem resultar da detonação de uma bomba nuclear num conflito militar, dum acidente industrial como aconteceu em Chernobyl e da terapia do cancro ou outra doença. A gravidade das lesões dos tecidos depende do tempo de exposição e da energia depositada. O corpo humano quando exposto a radiações ionizantes sofre alterações muito específicas e complexas, com alterações das funções dos órgãos e sistemas, que podem pôr em risco de vida os indivíduos expostos a este tipo de traumatismo.
A radiação ionizante sempre fez parte do universo do Homem e de todos os seres vivos. Diariamente cerca de 1012 células das 1014 que constituem, em média, o corpo humano são atingidas por radiação ionizante. Estas colisões geram iões e aglomerados de radicais livres reativos que podem produzir, de forma aleatória, danos nos constituintes celulares, incluindo o ADN.

Os efeitos adversos para a saúde, por exposição a radiação ionizante, podem-se agrupar em duas categorias: efeitos determinísticos (reações tecidulares) e efeitos estocásticos (cancro e efeitos hereditários).

Os efeitos determinísticos são os causados pela diminuição ou perda de função de um órgão devido a danos ou morte de células. Estão relacionados com uma quantidade conhecida de radiação a partir da qual ocorrem, ou seja, existe uma dose limiar. A gravidade dos efeitos é em função da dose recebida. O tempo de latência é curto.  
Na medicina, tais efeitos podem ocorrer na radioterapia e em procedimentos intervencionistas, especialmente quando estes procedimentos conduzidos por fluoroscopia são complexos e exigem mais tempo de fluoroscopia ou aquisição de várias imagens. A radiologia dentária contempla níveis de exposição tão baixos que se mostram incapazes de gerar tais efeitos, sobretudo se a técnica é otimizada.

Os efeitos estocásticos são os que resultam de modificações provocadas pelas radiações em células que mantêm a sua capacidade de divisão. Estas células modificadas podem, em alguns casos, iniciar uma transformação maligna da célula e conduzir ao desenvolvimento de um clone maligno e, finalmente, a um cancro clinicamente declarado. Por outro lado, podem ser iniciados efeitos genéticos por irradiação de células reprodutoras. A probabilidade da ocorrência é proporcional à dose, ou seja, aumenta com a dose recebida. Não existe um limiar de dose a partir dos quais seja seguro dizer que ocorrerá o efeito, tendo períodos de latência muito longos (superiores a 8-10 anos).

Qualquer dose de radiação, mesmo que muito pequena, é capaz de gerar um efeito estocástico, o qual se processa no tempo e as manifestações podem aparecer anos depois (efeitos tardios). Este efeito pode ser induzido por baixas doses ainda que administradas cronicamente e durante um longo período de tempo, como as recebidas pelos pacientes de radiodiagnóstico ou pelos trabalhadores expostos.

De entre os fatores de risco a idade assume grande importância, devendo ter-se em especial atenção quando se trata de crianças, pois a criança tem maior imaturidade celular que o adulto e um número esperado de anos de vida superior, o que permite um largo período de latência do efeito estocástico. A partir dos 80 anos, o risco é negligenciável porque o largo período de latência que ocorre entre a exposição e a manifestação da doença irá provavelmente exceder a esperança de vida do paciente. Contrariamente, o tecido celular dos jovens é mais radiossensível e a esperança de vida ultrapassa de longe o período latente.
Os riscos associados com a exposição às radiações dependem da dose que as pessoas expostas recebem. Para reduzir estes riscos deve-se reduzir a dose que se recebe e evitar exposições desnecessárias, através da adoção de medidas apropriadas e procedimentos que otimizem a exposição radiológica.

A proteção radiológica ou radioprotecção consiste na aplicação de princípios, leis e conhecimentos conducentes a prevenir e minimizar os efeitos indesejáveis produzidos pelas radiações ionizantes sobre o homem e o meio ambiente. O objetivo crucial da proteção radiológica é prevenir, nos indivíduos expostos, a ocorrência de efeitos determinísticos e reduzir a capacidade de provocar efeitos estocásticos para um nível aceitável, mantendo benefícios consideráveis.

Nota: Elaborado por Sílvia Silva, Técnica de Saúde Ambiental da Unidade de Saúde Pública de Barcelos/Esposende. Fotografia do profissional de Dario Silva. Imagem do topo da mensagem obtida a partir do site de imagens gratuitas morgueFile.

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