
As lesões por exposição a
radiações ionizantes podem resultar da detonação de uma bomba nuclear num
conflito militar, dum acidente industrial como aconteceu em Chernobyl e da
terapia do cancro ou outra doença. A gravidade das lesões dos tecidos depende
do tempo de exposição e da energia depositada. O corpo humano quando exposto a
radiações ionizantes sofre alterações muito específicas e complexas, com
alterações das funções dos órgãos e sistemas, que podem pôr em risco de vida os
indivíduos expostos a este tipo de traumatismo.
A radiação ionizante sempre fez
parte do universo do Homem e de todos os seres vivos. Diariamente cerca de 1012
células das 1014 que constituem, em média, o corpo humano são
atingidas por radiação ionizante. Estas colisões geram iões e aglomerados de
radicais livres reativos que podem produzir, de forma aleatória, danos nos
constituintes celulares, incluindo o ADN.
Os efeitos adversos para a saúde,
por exposição a radiação ionizante, podem-se agrupar em duas categorias:
efeitos determinísticos (reações tecidulares) e efeitos estocásticos (cancro e
efeitos hereditários).
Os efeitos determinísticos são os causados pela diminuição
ou perda de função de um órgão devido a danos ou morte de células. Estão
relacionados com uma quantidade conhecida de radiação a partir da qual ocorrem,
ou seja, existe uma dose limiar. A gravidade dos efeitos é em função da dose
recebida. O tempo de latência é curto.
Na medicina, tais efeitos podem
ocorrer na radioterapia e em procedimentos intervencionistas, especialmente
quando estes procedimentos conduzidos por fluoroscopia são complexos e exigem
mais tempo de fluoroscopia ou aquisição de várias imagens. A radiologia
dentária contempla níveis de exposição tão baixos que se mostram incapazes de
gerar tais efeitos, sobretudo se a técnica é otimizada.
Os efeitos estocásticos são os que resultam de modificações
provocadas pelas radiações em células que mantêm a sua capacidade de divisão.
Estas células modificadas podem, em alguns casos, iniciar uma transformação
maligna da célula e conduzir ao desenvolvimento de um clone maligno e,
finalmente, a um cancro clinicamente declarado. Por outro lado, podem ser
iniciados efeitos genéticos por irradiação de células reprodutoras. A
probabilidade da ocorrência é proporcional à dose, ou seja, aumenta com a dose
recebida. Não existe um limiar de dose a partir dos quais seja seguro dizer que
ocorrerá o efeito, tendo períodos de latência muito longos (superiores a 8-10
anos).
Qualquer dose de radiação, mesmo
que muito pequena, é capaz de gerar um efeito estocástico, o qual se processa
no tempo e as manifestações podem aparecer anos depois (efeitos tardios). Este
efeito pode ser induzido por baixas doses ainda que administradas cronicamente
e durante um longo período de tempo, como as recebidas pelos pacientes de
radiodiagnóstico ou pelos trabalhadores expostos.
De entre os fatores de risco a
idade assume grande importância, devendo ter-se em especial atenção quando se
trata de crianças, pois a criança tem maior imaturidade celular que o adulto e
um número esperado de anos de vida superior, o que permite um largo período de
latência do efeito estocástico. A partir dos 80 anos, o risco é negligenciável
porque o largo período de latência que ocorre entre a exposição e a
manifestação da doença irá provavelmente exceder a esperança de vida do
paciente. Contrariamente, o tecido celular dos jovens é mais radiossensível e a
esperança de vida ultrapassa de longe o período latente.
Os riscos associados com a
exposição às radiações dependem da dose que as pessoas expostas recebem. Para
reduzir estes riscos deve-se reduzir a dose que se recebe e evitar exposições
desnecessárias, através da adoção de medidas apropriadas e procedimentos que
otimizem a exposição radiológica.
A proteção radiológica
ou radioprotecção consiste na aplicação de princípios, leis e conhecimentos
conducentes a prevenir e minimizar os efeitos indesejáveis produzidos pelas
radiações ionizantes sobre o homem e o meio ambiente. O objetivo crucial da
proteção radiológica é prevenir, nos indivíduos expostos, a ocorrência de
efeitos determinísticos e reduzir a capacidade de provocar efeitos estocásticos
para um nível aceitável, mantendo benefícios consideráveis.
Nota: Elaborado por Sílvia Silva, Técnica de Saúde Ambiental da Unidade de Saúde Pública de Barcelos/Esposende. Fotografia do profissional de Dario Silva. Imagem do topo da mensagem obtida a partir do site de imagens gratuitas morgueFile.
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