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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Resumo das principais conclusões das 3.as Jornadas da Unidade de Saúde Pública de Barcelos/Esposende - Ecologia do Envelhecimento

As 3.as Jornadas da Unidade de Saúde Pública decorreram no dia 16/05/2012 no Auditório de Palmeira de Faro em Esposende.
 
Ao longo do dia, os mais de cem participantes ouviram 14 especialistas de diversas áreas, convidados a abordar aspectos mais específicos subordinados ao “mote” Ecologia do Envelhecimento, tema geral das Jornadas, escolhido em consonância com o Envelhecimento Activo, estabelecido pela Organização Mundial da Saúde como o tema do dia mundial da saúde 2012. O ano de 2012 é, também, dedicado pela União Europeia à comemoração do Ano Europeu do Envelhecimento Activo.

Assim sendo, estas jornadas surgiram com o objectivo de abordar problemas de saúde pública relacionados com a demografia, prevenção de algumas das realidades do envelhecimento, refletindo sobre estratégias que visem o envelhecimento activo, promovendo a melhoria das oportunidades de saúde, de participação, segurança, manutenção da autonomia e da independência, e ainda, da valorização das competências e do aumento da qualidade de vida e da saúde da população idosa.

Destas jornadas, onde foram apresentados 15 posters científicos, realçam-se as seguintes conclusões:
  • A população mundial está a envelhecer a passos largos. Entre o ano 2000 e 2050, a proporção de pessoas com mais de 60 anos de idade irá duplicar, passando de 11% para 22%.
  • Entre o ano 2000 e 2050, o número absoluto de pessoas com 60 ou mais anos de idade aumentará, muito provavelmente, de 605 milhões para dois biliões.
  • Estima-se que até 2050, o número de pessoas com 80 anos de idade venha a duplicar para 395 milhões.
  • Nos próximos cinco anos, e pela primeira vez na história da humanidade, o número de adultos com 65 anos de idade, ou mais, será maior do que o número de crianças menores de cinco anos.
  • A população portuguesa mais velha apresenta – em geral – condições sociais desfavoráveis para a saúde (ex. níveis de educação baixos, rendimentos reduzidos):
  1. As mulheres têm pior saúde, mas também são as mais velhas, e apresentam maiores níveis de comorbilidade;
  2. As mulheres realizam mais práticas saudáveis, no entanto a realização de práticas saudáveis não coincide com um bom estado de saúde;
  3. Pior estado de saúde e práticas de saúde pouco saudáveis estão associadas a rendimentos inferiores e actividade laboral indiferenciada;
  4. Os Homens e as Mulheres não constituem uma oposição em termos de Estado de Saúde e Condições de Saúde. 
  • Estima-se que esta evolução demográfica será mais rápida e espectacular nos países de baixa ou média renda per capita. Por exemplo, enquanto serão necessários cerca de 100 anos para que a proporção da população francesa com 65 anos e mais passe de 7% para 14%, em países como o Brasil e a China, este crescimento levará apenas 25 anos!

  • O envelhecimento da população provoca consequências nas políticas de saúde e segurança social, a destacar:
  1. O envelhecimento cria pressão sobre as pensões a pagar;
  2. O envelhecimento não é o principal factor de crescimento da despesa em saúde;
  3. O envelhecimento, a prazo, pode ter efeitos positivos sobre o crescimento económico, via investimento em capital humano ao longo da vida (efeito a necessitar de reflexão e medição apropriadas).
  • Estes aumentos consideráveis na esperança de vida, de quase 50 anos num século, devem-se em grande medida aos progressos socioeconómicos e ao sucesso de estratégias de saúde pública.

  • A saúde deverá estar presente em todas as políticas:
  1. Medidas tendentes à capacitação do indivíduo e da sua literacia - informação e educação – estilos de vida saudáveis (exercício físico, nutrição, etc…):
              - Actualização tecnológica;
              - Ajuste do investimento em saúde ao status demográfico da
              população (ex. Rede Nacional de Cuidados Continuados
              Integrados, política do medicamento).

        2. Medidas tendentes a contrariar as condicionantes da idade na
             vida societária:

                - Valorização de programas e projectos integradores dos idosos
                    na vida activa;
                - Valorização do idoso enquanto fator de estabilidade
                    intergeracional e na agregação dos núcleos familiares;
                 - Iniciativas tendentes à promoção do envelhecimento activo.

      3. Perspectiva de optimização de recursos e maximização da eficácia. 
  • Para que se desfrute de boa saúde enquanto idoso é preciso que antes se tenha cultivado uma boa saúde: a má nutrição antes do nascimento aumenta o risco de doenças como as patologias respiratórias ou diabetes na idade adulta. As infecções respiratórias contraídas durante a infância podem aumentar o risco de bronquite crónica na idade adulta. Os adolescentes obesos ou que apresentem uma sobrecarga ponderal correm o risco de sofrer de doenças crónicas durante a idade adulta (diabetes, patologias circulatórias, cancro e complicações respiratórias e músculo-esqueléticas).

  • As doenças respiratórias são prevalentes e uma das principais causas de mortalidade e morbilidade em idosos. O envelhecimento induz alterações anatómicas e funcionais no sistema respiratório que, associadas à diminuição da resposta imunitária no idoso, contribuem para:
                - Aumento da incidência de pneumonia;
               - Aumento da probabilidade de hipoxia;
               - Diminuição do consumo máximo de oxigénio.

  1. A imunização desempenha um papel fundamental na prevenção das doenças respiratórias de etiologia pneumocócica, mas ainda não estão esclarecidas questões relevantes quanto à sua utilização.
  2. Medidas simples e de fácil implementação não devem ser negligenciadas na prevenção da pneumonia, embora sejam muitas vezes esquecidas.
  3. As doenças respiratórias crónicas são multifactoriais.
  4. Para além das alterações associadas ao envelhecimento, estas patologias são mais frequentes na população idosa pela necessidade de exposições prolongadas aos diversos factores de risco. o É necessária a criação, a nível global e individual, de estratégias de prevenção e de diminuição da exposição aos factores de risco.
  5. A iniciativa GARD poderá facilitar a compreensão da correcta etiologia das doenças crónicas respiratórias e a implementação de medidas eficazes na sua redução.
  6. Tendo em conta a existência de múltiplos factores de risco ambientais, a educação para a saúde deverá ser um factor essencial nas estratégias de prevenção.

  • Saber envelhecer com saúde, depende de vários factores: o sistema biológico do ser humano aumenta à medida do seu crescimento, atinge a sua plenitude na idade adulta e vai diminuindo naturalmente depois. A rapidez deste declínio é determinada, pelo menos em parte, pelos nossos comportamentos e por tudo a que estamos expostos ao longo das nossas vidas, isto é, pela nossa alimentação, a prática ou não de actividade física e a exposição a riscos para a nossa saúde, como sejam o tabagismo, o consumo nocivo do álcool, ou a exposição a substâncias tóxicas.

  • A prática regular do exercício pode:

  1. Minimizar os efeitos fisiológicos de um estilo de vida sedentário;
  2. Limitar o desenvolvimento e a progressão de doenças crónicas e outras situações incapacitantes;
  3. Aumentar a expectativa de vida activa.

  • Os médicos de medicina geral e familiar devem prescrever, repetidamente, actividade física a todos os seus pacientes (independentemente da idade ou de doenças crónica), adaptada às características do paciente.

  • A maioria das pessoas idosas morre de doenças não transmissíveis: cardiopatias, cancro, diabetes, em vez de doenças infecciosas e parasitárias. Por outro lado, as pessoas idosas apresentam frequentemente vários problemas de saúde em simultâneo, como por exemplo diabetes e cardiopatias.

  • Determinadas terapias naturais (onde se destacam a naturopatia ou a fitoterapia) poderão auxiliar as pessoas a ter uma alimentação mais equilibrada e saudável, e dessa forma, apoiar e reforçar todo o sistema imunitário, essencial no combate dos estados patológicos.

  • O número de pessoas afectadas por um «handicap» aumenta em função do envelhecimento da população e do risco crescente de doença crónica com a idade. Por exemplo, cerca de 65% das pessoas com deficiências visuais têm 50 anos de idade ou mais e esta franja da população representa cerca de 20% da população mundial. Por conseguinte, o envelhecimento da população em vários países vai expor um número crescente de pessoas a problemas de deficiência visual.

  • Existe um número considerável de pessoas idosas no mundo expostas a maus-tratos. Nos países desenvolvidos, cerca de 4% a 6% de pessoas estão expostas a maus-tratos nos seus domicílios. As pessoas idosas que vivam em lares, também podem ser vítimas de maus-tratos. Esses casos podem estar relacionados com a sua liberdade de movimento, dignidade, privacidade, auto-estima, etc.

  • Muitas pessoas idosas são frágeis, apresentam problemas físicos e mentais e têm dificuldades de locomoção. Muitas das pessoas idosas têm por isso necessidade de cuidados a longo prazo (tratamento no domicílio; cuidados a nível comunitários; assistência para as tarefas do dia a dia; atendimento em instituições especializadas e internamentos prolongados em unidades hospitalares).

  • As dificuldades em locomoção levam a que as estruturas dos edifícios sejam adaptadas de forma a responderem às necessidades de mobilidade e acessibilidade. Esta necessidade, cada vez mais premente devido ao aumento do número de pessoas idosas, deverá conduzir à adopção de políticas e estratégias que promovam a inclusão das pessoas com mobilidade condicionada, tais como eliminação de obstáculos nas vias pedonais, melhoria da qualidade e da segurança das vias pedonais, criação de condições de acessibilidade nos edifícios e circuitos de circulação, criação de estruturas que proporcionem a co-existência segura de diferentes tipos de locomoção nas cidades e vilas, entre outras.

  • O risco de demência, como a ocorrência de doença de Alzheimer, aumenta claramente com a idade, estimando-se que 25 a 30% das pessoas com 85 anos de idade e mais apresentem um declínio nas suas capacidades cognitivas. Nos países menos desenvolvidos, estas pessoas não têm acesso a cuidados médicos e as suas famílias não beneficiam de assistência financeira pública para os cuidados a nível domiciliário.

  • A sexualidade na 3.ª idade, tantas vezes considera tabu pela sociedade, deverá ser encarada como uma questão natural. A sexualidade deverá ser vivida plenamente por qualquer pessoa, independentemente da idade ou de outros factores, sendo que para isso é preciso abordar e discutir abertamente problemas que a afectem e estejam relacionados com o envelhecimento. Os efeitos redutores do desejo e da capacidade sexual inerentes aos processos de envelhecimento devem ser abordados pelas equipas de saúde para que sejam encontradas soluções e, assim, se mantenham hábitos sexuais saudáveis e seguros.

  • Em caso de catástrofes naturais ou conflito armado, as pessoas idosas são as mais vulneráveis e incapazes de percorrer longas distâncias, sendo por vezes abandonadas. Contudo, em muitas situações, elas são úteis, podem prestar contribuições preciosas e aconselhamento às suas comunidades; a sua experiência traz benefícios para a vida quotidiana e para se fazer face aos desafios do futuro. No quadro da ajuda humanitária, desempenham um papel importante como líderes comunitários.

Em suma:
                 As pessoas idosas são um património
                  nacional/mundial.
                
                 As pessoas idosas são preciosas para a sociedade e
                 devem sentir-se valorizadas.
                 
                 Uma boa saúde ao longo da vida permite-nos
                 desfrutar plenamente dos aspectos positivos do
                 envelhecimento.
                
                 As sociedades que prestam cuidados à sua população
                 idosa e que beneficiam da sua participação activa na
                 vida quotidiana estarão melhor preparadas para
                 fazerem face aos desafios da evolução mundial.

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