As 3.as Jornadas da Unidade de Saúde Pública decorreram no dia 16/05/2012 no Auditório de Palmeira de Faro em Esposende.
Ao longo do dia, os mais de cem participantes ouviram 14 especialistas de diversas áreas, convidados a abordar aspectos mais específicos subordinados ao “mote” Ecologia do Envelhecimento, tema geral das Jornadas, escolhido em consonância com o Envelhecimento Activo, estabelecido pela Organização Mundial da Saúde como o tema do dia mundial da saúde 2012. O ano de 2012 é, também, dedicado pela União Europeia à comemoração do Ano Europeu do Envelhecimento Activo.
Assim sendo, estas jornadas surgiram com o objectivo de abordar problemas de saúde pública relacionados com a demografia, prevenção de algumas das realidades do envelhecimento, refletindo sobre estratégias que visem o envelhecimento activo, promovendo a melhoria das oportunidades de saúde, de participação, segurança, manutenção da autonomia e da independência, e ainda, da valorização das competências e do aumento da qualidade de vida e da saúde da população idosa.
Destas jornadas, onde foram apresentados 15 posters científicos, realçam-se as seguintes conclusões:
- A população mundial está a envelhecer a passos largos. Entre o ano 2000 e 2050, a proporção de pessoas com mais de 60 anos de idade irá duplicar, passando de 11% para 22%.
- Entre o ano 2000 e 2050, o número absoluto de pessoas com 60 ou mais anos de idade aumentará, muito provavelmente, de 605 milhões para dois biliões.
- Estima-se que até 2050, o número de pessoas com 80 anos de idade venha a duplicar para 395 milhões.
- Nos próximos cinco anos, e pela primeira vez na história da humanidade, o número de adultos com 65 anos de idade, ou mais, será maior do que o número de crianças menores de cinco anos.
- A população portuguesa mais velha apresenta – em geral – condições sociais desfavoráveis para a saúde (ex. níveis de educação baixos, rendimentos reduzidos):
- As mulheres têm pior saúde, mas também são as mais velhas, e apresentam maiores níveis de comorbilidade;
- As mulheres realizam mais práticas saudáveis, no entanto a realização de práticas saudáveis não coincide com um bom estado de saúde;
- Pior estado de saúde e práticas de saúde pouco saudáveis estão associadas a rendimentos inferiores e actividade laboral indiferenciada;
- Os Homens e as Mulheres não constituem uma oposição em termos de Estado de Saúde e Condições de Saúde.
- Estima-se que esta evolução demográfica será mais rápida e espectacular nos países de baixa ou média renda per capita. Por exemplo, enquanto serão necessários cerca de 100 anos para que a proporção da população francesa com 65 anos e mais passe de 7% para 14%, em países como o Brasil e a China, este crescimento levará apenas 25 anos!
- O envelhecimento da população provoca consequências nas políticas de saúde e segurança social, a destacar:
- O envelhecimento cria pressão sobre as pensões a pagar;
- O envelhecimento não é o principal factor de crescimento da despesa em saúde;
- O envelhecimento, a prazo, pode ter efeitos positivos sobre o crescimento económico, via investimento em capital humano ao longo da vida (efeito a necessitar de reflexão e medição apropriadas).
- Estes aumentos consideráveis na esperança de vida, de quase 50 anos num século, devem-se em grande medida aos progressos socioeconómicos e ao sucesso de estratégias de saúde pública.
- A saúde deverá estar presente em todas as políticas:
- Medidas tendentes à capacitação do indivíduo e da sua literacia - informação e educação – estilos de vida saudáveis (exercício físico, nutrição, etc…):
- Actualização tecnológica;
- Ajuste do investimento em saúde ao status demográfico da
população (ex. Rede Nacional de Cuidados Continuados
Integrados, política do medicamento).
2. Medidas tendentes a contrariar as condicionantes da idade na
vida societária:
- Valorização de programas e projectos integradores dos idosos
na vida activa;
- Valorização do idoso enquanto fator de estabilidade
intergeracional e na agregação dos núcleos familiares;
- Iniciativas tendentes à promoção do envelhecimento activo.
3. Perspectiva de optimização de recursos e maximização da eficácia.
- Para que se desfrute de boa saúde enquanto idoso é preciso que antes se tenha cultivado uma boa saúde: a má nutrição antes do nascimento aumenta o risco de doenças como as patologias respiratórias ou diabetes na idade adulta. As infecções respiratórias contraídas durante a infância podem aumentar o risco de bronquite crónica na idade adulta. Os adolescentes obesos ou que apresentem uma sobrecarga ponderal correm o risco de sofrer de doenças crónicas durante a idade adulta (diabetes, patologias circulatórias, cancro e complicações respiratórias e músculo-esqueléticas).
- As doenças respiratórias são prevalentes e uma das principais causas de mortalidade e morbilidade em idosos. O envelhecimento induz alterações anatómicas e funcionais no sistema respiratório que, associadas à diminuição da resposta imunitária no idoso, contribuem para:
- Aumento da incidência de pneumonia;
- Aumento da probabilidade de hipoxia;
- Diminuição do consumo máximo de oxigénio.
- A imunização desempenha um papel fundamental na prevenção das doenças respiratórias de etiologia pneumocócica, mas ainda não estão esclarecidas questões relevantes quanto à sua utilização.
- Medidas simples e de fácil implementação não devem ser negligenciadas na prevenção da pneumonia, embora sejam muitas vezes esquecidas.
- As doenças respiratórias crónicas são multifactoriais.
- Para além das alterações associadas ao envelhecimento, estas patologias são mais frequentes na população idosa pela necessidade de exposições prolongadas aos diversos factores de risco. o É necessária a criação, a nível global e individual, de estratégias de prevenção e de diminuição da exposição aos factores de risco.
- A iniciativa GARD poderá facilitar a compreensão da correcta etiologia das doenças crónicas respiratórias e a implementação de medidas eficazes na sua redução.
- Tendo em conta a existência de múltiplos factores de risco ambientais, a educação para a saúde deverá ser um factor essencial nas estratégias de prevenção.
- Saber envelhecer com saúde, depende de vários factores: o sistema biológico do ser humano aumenta à medida do seu crescimento, atinge a sua plenitude na idade adulta e vai diminuindo naturalmente depois. A rapidez deste declínio é determinada, pelo menos em parte, pelos nossos comportamentos e por tudo a que estamos expostos ao longo das nossas vidas, isto é, pela nossa alimentação, a prática ou não de actividade física e a exposição a riscos para a nossa saúde, como sejam o tabagismo, o consumo nocivo do álcool, ou a exposição a substâncias tóxicas.
- A prática regular do exercício pode:
- Minimizar os efeitos fisiológicos de um estilo de vida sedentário;
- Limitar o desenvolvimento e a progressão de doenças crónicas e outras situações incapacitantes;
- Aumentar a expectativa de vida activa.
- Os médicos de medicina geral e familiar devem prescrever, repetidamente, actividade física a todos os seus pacientes (independentemente da idade ou de doenças crónica), adaptada às características do paciente.
- A maioria das pessoas idosas morre de doenças não transmissíveis: cardiopatias, cancro, diabetes, em vez de doenças infecciosas e parasitárias. Por outro lado, as pessoas idosas apresentam frequentemente vários problemas de saúde em simultâneo, como por exemplo diabetes e cardiopatias.
- Determinadas terapias naturais (onde se destacam a naturopatia ou a fitoterapia) poderão auxiliar as pessoas a ter uma alimentação mais equilibrada e saudável, e dessa forma, apoiar e reforçar todo o sistema imunitário, essencial no combate dos estados patológicos.
- O número de pessoas afectadas por um «handicap» aumenta em função do envelhecimento da população e do risco crescente de doença crónica com a idade. Por exemplo, cerca de 65% das pessoas com deficiências visuais têm 50 anos de idade ou mais e esta franja da população representa cerca de 20% da população mundial. Por conseguinte, o envelhecimento da população em vários países vai expor um número crescente de pessoas a problemas de deficiência visual.
- Existe um número considerável de pessoas idosas no mundo expostas a maus-tratos. Nos países desenvolvidos, cerca de 4% a 6% de pessoas estão expostas a maus-tratos nos seus domicílios. As pessoas idosas que vivam em lares, também podem ser vítimas de maus-tratos. Esses casos podem estar relacionados com a sua liberdade de movimento, dignidade, privacidade, auto-estima, etc.
- Muitas pessoas idosas são frágeis, apresentam problemas físicos e mentais e têm dificuldades de locomoção. Muitas das pessoas idosas têm por isso necessidade de cuidados a longo prazo (tratamento no domicílio; cuidados a nível comunitários; assistência para as tarefas do dia a dia; atendimento em instituições especializadas e internamentos prolongados em unidades hospitalares).
- As dificuldades em locomoção levam a que as estruturas dos edifícios sejam adaptadas de forma a responderem às necessidades de mobilidade e acessibilidade. Esta necessidade, cada vez mais premente devido ao aumento do número de pessoas idosas, deverá conduzir à adopção de políticas e estratégias que promovam a inclusão das pessoas com mobilidade condicionada, tais como eliminação de obstáculos nas vias pedonais, melhoria da qualidade e da segurança das vias pedonais, criação de condições de acessibilidade nos edifícios e circuitos de circulação, criação de estruturas que proporcionem a co-existência segura de diferentes tipos de locomoção nas cidades e vilas, entre outras.
- O risco de demência, como a ocorrência de doença de Alzheimer, aumenta claramente com a idade, estimando-se que 25 a 30% das pessoas com 85 anos de idade e mais apresentem um declínio nas suas capacidades cognitivas. Nos países menos desenvolvidos, estas pessoas não têm acesso a cuidados médicos e as suas famílias não beneficiam de assistência financeira pública para os cuidados a nível domiciliário.
- A sexualidade na 3.ª idade, tantas vezes considera tabu pela sociedade, deverá ser encarada como uma questão natural. A sexualidade deverá ser vivida plenamente por qualquer pessoa, independentemente da idade ou de outros factores, sendo que para isso é preciso abordar e discutir abertamente problemas que a afectem e estejam relacionados com o envelhecimento. Os efeitos redutores do desejo e da capacidade sexual inerentes aos processos de envelhecimento devem ser abordados pelas equipas de saúde para que sejam encontradas soluções e, assim, se mantenham hábitos sexuais saudáveis e seguros.
- Em caso de catástrofes naturais ou conflito armado, as pessoas idosas são as mais vulneráveis e incapazes de percorrer longas distâncias, sendo por vezes abandonadas. Contudo, em muitas situações, elas são úteis, podem prestar contribuições preciosas e aconselhamento às suas comunidades; a sua experiência traz benefícios para a vida quotidiana e para se fazer face aos desafios do futuro. No quadro da ajuda humanitária, desempenham um papel importante como líderes comunitários.
Em suma:
As pessoas idosas são um património
nacional/mundial.
As pessoas idosas são preciosas para a sociedade e
devem sentir-se valorizadas.
Uma boa saúde ao longo da vida permite-nos
desfrutar plenamente dos aspectos positivos do
envelhecimento.
As sociedades que prestam cuidados à sua população
idosa e que beneficiam da sua participação activa na
vida quotidiana estarão melhor preparadas para
fazerem face aos desafios da evolução mundial.
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