Os efeitos dos alimentos no
cérebro são tão profundos que alguns cientistas afirmam que a saúde mental de
muitos países pode estar relacionada com a alimentação tradicional. E um número
significativo de estudos inovadores sugerem a possibilidade de os efeitos dos
nutrientes na saúde do nosso cérebro poderem ser transmitidos a través de
gerações, por influenciarem eventos epigenéticos. Um consumo calórico global
excessivo e uma alimentação rica em gorduras saturadas, trans e sacarosa pode
afectar negativamente a cognição e danificar o cérebro, pelo stress oxidativo
ao que é submetida qualquer célula nervosa. Em geral uma alimentação
equilibrada, sem excessos calóricos, pobre em alimentos ricos em gorduras e
açúcares, parcimoniosa em carne, peixe e ovos, com inclusão de peixes gordos
pelo menos 2 vezes por semana, e rica em frutos, hortícolas, cereais integrais,
oleaginosas e sementes, com recurso a especiarias e ervas aromáticas, é com
certeza promotora da saúde do cérebro.
“Numa casa portuguesa fica bem
pão e vinho na mesa, ai que dona Amália se esquece de falar da água! Outros
tempos…” (retirado de O Saber Comer, Beber, Andar e Conversar em Boa Companhia)
O Saber Comer, Beber, Andar e Conversar em Boa Companhia é uma publicação
digital do Ministério da Saúde (Papinhas & Cantorias restaurante), que dá a
conhecer os dez princípios da dieta mediterrânica, fornece pautas para que a
alimentação seja protectora do meio ambiente e quais os princípios para não
abdicar da cultura e dos hábitos portugueses. Alguns dos principais erros
alimentares são o elevado consumo de sal, bebidas alcoólicas, gorduras, açúcar
e alimentos açucarados e reduzido consumo de alimentos ricos em fibras
(hortaliças, legumes e frutos), assim como não tomar o pequeno almoço ou saltar
as refeições.
O dano que provoca o consumo de
álcool no cérebro não para de repente depois de abandonar o hábito de beber
vinho ou cerveja às refeições, e continuam em progressão durante as seis
primeiras semanas de abstinência. No mês de abri deste ano num estudo realizado
no Instituto de Neurociências de Alicante com internados num programa de
desintoxicação de cidadãos na Alemanha e publicado na revista JAMA Psychiatry
(estudo caso controlo,2019), explicam a existência de danos na substância
branca do cérebro que comunica as distintas regiões da substância cinzenta e na
autopsia do cérebro demonstra-se um dano na comunicação entre os neurónios,
prevendo que estes não funcionam de modo eficiente. Em estudos anteriores,
fala-se de pelo menos 1 ano como prazo para que os parâmetros cerebrais
regressem ao nível da população saudável.
Este estudo (com 91 homens com
transtorno de uso de álcool, 36 controlos masculinos saudáveis e 27 ratos com
alta preferência por álcool e 9 ratos controlo) encontrou alterações de substância
branca altamente semelhantes entre as espécies. Um padrão similar de progressão
na alteração do tensor de difusão foi encontrado em pacientes e ratos durante a
abstinência precoce (2-6 semanas). Os padrões reprodutíveis de alterações em
humanos e ratos sustentam uma associação com o álcool e a progressão das
alterações de tensor de difusão na abstinência inicial sugere um processo
subjacente que evolui logo após a cessação do uso de álcool.
Embora os efeitos prejudiciais do
álcool no cérebro sejam amplamente reconhecidos, as mudanças estruturais
observadas são altamente heterogêneas, e faltam marcadores diagnósticos para
caracterizar danos cerebrais induzidos pelo álcool, especialmente na
abstinência precoce. Essa heterogeneidade, provavelmente contribuída por
factores de co-morbilidade em pacientes com transtorno de uso de álcool (AUD),
desafia uma ligação directa das alterações cerebrais à fisiopatologia do abuso
de álcool. Estudos translacionais em modelos animais podem ajudar a colmatar
este hiato causal. A relevância deste estudo radica no uso de uma abordagem
translacional DTI, onde foram encontradas alterações comparáveis na substância
branca em pacientes com AUD e ratos com consumo prolongado de álcool. Em
humanos e ratos, uma progressão das alterações do DTI para a abstinência
precoce (2-6 semanas) sugere um processo subjacente que evolui logo após a
cessação do uso de álcool.
A análise incluiu 91 homens com
AUD (média idade, 46,1 anos) e 27 ratos machos nos grupos AUD e 36
controles masculinos (média idade, 41,7 anos) e 9 controles ratos
machos. Compararam-se as alterações DTI comparáveis entre os grupos álcool e
controle em ambas as espécies, com um envolvimento preferencial do corpo caloso
(anisotropia fraccionada Cohen d = -0,84 corrigida em humanos e
Cohen d = -1,17 corrigido em ratos) e o fórnix / fimbria
(anisotropia fracionária Cohen d = -0,92 corrigido em humanos ed
= -1,24 corrigido em ratos). Alterações no DTI foram associadas
com padrões de consumo pré-admissão em pacientes e progresso em humanos e ratos
durante 6 semanas de abstinência. A modelagem matemática mostra que este
processo é compatível com uma desmielinização sustentada e / ou uma reacção
glial.
Nota: Elaborado por Maria Jesus Blanco, Médica de Saúde Pública, tendo como fontes informações obtidas de: - Livro comer , beber e viver, promovendo a literacia em saúde dos portugueses (www.biblioteca.sns.gov.pt); JAMA Psiquiatria. Publicado online em 3 de abril de 2019. doi: 10.1001/jamapsychiatry.2019.0318, "Alterações microestruturais da substância branca em homens com transtorno de uso de álcool e ratos com consumo excessivo de álcool durante a abstinência precoce"
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